Diário de um Malkaviano

Esse é simplesmente um diário de um malkaviano, se vc espera encontrar aqui uma biografia devidamente organizada cronologicamente, desista. Maiores informações,leia o "primeiro post", conhecido carinhosamente como, "o primeiro" !!!

Monday, July 03, 2006

maniqueísmo e eleição

Algumas poucas coisas no Brasil atual ainda me animam e me inspiram o espírito critico fora do campo das artes e talvez do campo ligado ao Direito e epistemologia. Mais precisamente o que eu queria ter dito e não disse é que pouca coisa tem estimulado o meu espírito crítico no campo da política nacional. Uma dessas poucas coisas que sempre me animam e me despertam do marasmo e da inércia em que me deixo afundar entregando-me a onda de denuncismos e de analises superficiais, que sempre marcaram aliás grande parte da imprensa brasileira, exceto talvez as de cunho mais especializado, é a Revista Carta Capital. Registro aqui o elogio e a gratidão a essa Revista que no meio a um tiroteio de frases e pensamentos prontos se permite repensar e refletir sobre os acontecimentos que se lhe põe a frente. Ou ao menos disfarça de mode a convencer-me de que o faz. Talvez não seja tão auto reflexivo assim tal semanário brasileiro, porém ao fugir do maniqueísmo que têm assolado nossa imprensa e por extensão um pouco dos debates de esquina ou de botequim, acaba se destacando muito por força da incompentência (será realmente incompetência? ainda me permito pensar que em gde parte o seja) alheia.

Toda a idéia em que se constroi a própria ciência - a repetição de um experimento como forma comprobatória da existência de determindas leis a regê-lo- já foram contestadas por david hume e adquirem certa "flexibilidade" com Popper ao introduzir a idéia de refutabilidade. A tese científica teria de ser portanto refutável para poder sustentar o titulo de cientifíca, afastando portanto os dogmas. O movimento pós-moderno tenta flexibilizar ainda mais o mito de verdade científica universal (já limitada a uma historicamente na teoria de popper). A verdade teria talvez status meramente ou preponderantemente subjetivo. Não haveria elemento objetivo capaz de aferi-la com imparcialidade. E se há parcialidade temos aqui mais um elemento subjetivo constituindo um "ciclo vicioso" que impregna definitivamente a verdade de um grau de subjetividade.

O que importa tudo isso para o que se busca expressar aqui, é algo próximo ao que se entende pela crítica ou pelo espírito crítico. Os discursos prontos, as analises superficiais e toda essa forma de conduzir a política tradicional na dita direita brasileira e agora impregnada em grande parcela do PT, avançam frontalmente em oposição à formação de um espírito crítico. Mas e daí? De que vale o espírito crítico se afinal de contas não tinha como o Lula não saber? De que vale o espírito crítico se temos problemas imediatos e urgentes para resolver como ... como ... aqui vai depender do público alvo, mas se não for possível uma analise mais atenta de para quem se dirige a mensagem provavelmente se dirá, como a corrupção?

Sejamos sensatos. Nenhum desses novos problemas é tão novo e urgente assim, bem como boa parte das medidas provisórias no país são editadas sem que os requisitos da urgência e necessidade sejam respeitados, ao menos na opnião da maioria dos professores e estudantes de Direito com os quais tive contato, os quais, em tese, teria uma formação acadêmica suficientes para torná-los livres, ou relativamente livres na formação de seu pensamento a respeito do tema. A corrupção "anda solta" no país desde séculos atrás. O problema da fome e da miséria também são recorrentes. Tantos problemas estruturais tão graves e tão impregnados em nossa estrutura socio política não deveria nos fazer pensar que soluções rápidas não resolverão o problema (quando digo soluções rápidas não quero aqui justificar a incapacidade do governo Lula de realizar muitas das alterações na estrutura brasileira que el poderia ter feito) ? Não deveria nos levar a acreditar que um problema de tantos séculos não pode ter uma solução tão simples que se enquadre em um conceito mágico mostrado na tv como "neo liberalismo", "Estado Mínimo", "liberdade do Mercado" ou qualquer coisa parecida. Não digo aqui que o Estado Mínimo seja uma boa ou uma má opção. O que eu digo é que a nossa imprensa em geral, e talvez por adequação a esse que seria segundo alguns o quarto poder os partidos e candidatos também, tem vendido uma ilusão simplista acerca da realidade brasileira que se revela em verdade alienadora e atenta contra a própria instituição democrática.

A luta pela idéia de soluções rápidas tem de ser contraposta pelo espírito crítico que tem de nos levar sempre a desconfiar das idéias repetidas que querem nos "enfiar goela abaixo". A atual eleição presidencial demonstra claramente esse problema na vida política nacional. Não se discute nenhum problema estrutural brasileiro em grande medida. A campanha massiva da imprensa e da oposição, à qual adere o governo ao responder tbm. de forma superficial talvez achando faltar outra opção, impede qualquer sopesamento de acertos e desacertos do governo, impede uma critica construtiva que saiba o caminho que busca trilhar.

O que se quer expressar no presente texto, é o incoformismo frente a uma concepção maniqueísta que atualmente separa governistas e oposicionistas com discursos cada vez mais acirrados e cada vez mais superficiais. Num estilo de vida do fast food e das "Mac Donald´s" quer-se também uma massificação do pensamento e surgem portanto os defensores das "verdades ululantes" que ninguém com honestidade e probidade poderia negar.

Pois bem, o pouco de espírito crítico que está em mim ousa negar. Ousa negar a todos que visam esconder seus posicionamentos em discursos absolutos acusando todos os que pensam contrariamente de ingênuos ou de mentirosos. O discurso da verdade única não se fez valer totalmente nem na China da revolução cultural nem nos Estados Unidos Mcartista e não conseguirá exterminar o espírito crítico da face da Terra. Não sei, todavia, se a democracia, e em especial a democracia brasileira pode sobreviver a tal discurso tão inflamado de nossa imprensa e de muitos de nossos políticos.

Como provável eleitor do Lula nas próximas eleições, o que mais tenho visto, o que mais tem me chamado a atenção, tem sido os discursos totalitários dos oposicionistas, que se inflamam em meias verdades a concluir que a votar no Lula ou eu seria um ignorante ou estaria intencionalmente apoiando a corrupção. Acredito, todavia, que aqueles menos afoitos que pretendem votar em Alckimim, por exemplo, devem ouvir semelhante ladainha daqueles governistas que pretendam em uma teoria conspiratória associar tudo o que for oposição à forças conservadoras marcada pelo que há de atraso em nossa elite brasileira. Não pode haver democracia sem respeito a idéias diferentes. Nenhum grupo de mídia ou partido político tem o direito de querer nos impor seu discurso de verdade.

No caso prático brasileiro tal imposição acarreta dois grandes problemas. O primeiro é a fragilização da democracia no país, com um acirramento irracional e superficial das campanhas levando a atritos cada vez maiores e desnecessários. Ciro Gomes em recente entrevista em revista impressa disse temer o grau de conflitividade dessas eleições, nas digamos animadas "conversas de botequim" dado o "clima tenso" que vem se instaurando. Outro problema gravíssimo é o afastamento cada vez maior da possibilidade de construção de soluções para os problemas estruturais de nossa sociedade dada a alienação cada vez maior de nossa população. Nos limitamos em debater aspectos superficiais ao invés de buscar refletir sobre questões como a política econômica brasileira, a real significação da desigualdade social no país, os limites e possibilidades de avanço nas questões sociais dentro de um quadro institucional democrático. Nos tornamos cada vez mais parecidos com torcedores de futebol no debate político do que "cidadãos sérios" que buscam num debate dialético (eu não consigo visualizar a democracia apartada desse debate dialético continuo) resolver os grandes problemas nacionais.

E assim o presidente Lula consegue aprovar o modelo japonês para a tv digital sem que a sociedade pudesse discutir quais os reais benefícios disso, e assim o FUNDEB vai se arrastando no Congresso pq. a oposição teme que essa seja uma grande bandeira do governo Lula e com isso demonstram todo o seu descaso com a educação, e com isso a política se torna cada vez mais a arte dos acordos e das conveniências e cada vez menos a resposta do governo às críticas e às pressões sociais de um povo minimamente consciente e orgulhoso de suas instituições. E isso afeta tanto governos de esquerda como de direita.

Enfim esse é um manifesto contra o maniqueísmo na política que normalmente está associado à busca de soluções rápidas. Por fim quero agradecer a Mino Carta por ser responsável por uma revista que ou está na contramão do quadro aqui esboçado ou consegue fingir muito bem, e de uma forma ou de outra servir de estímulo ao que querem pensar a República como algo coletivo que possa ser construído a partir da junção de diversas vozes e não apenas de um discurso opressor e totalizante.

Quero ainda abrir uma única exceção ao que foi dito acima acerca do respeito que deve ser nutrido acerca da opnião alheia. Em nosso sistema acredito que existe um segmento que tem ampla legitimidade para não ter qualquer respeito pela opnião alheia. É o setor formado por aqueles que estão quase que totalmente excluídos disso que chamamos de cidadania. Aqueles que não podem possuir bens, aqueles que não conhecem o significado da palavra propriedade. A estes que se tornam uma parcela cada vez maior da população e que colaboram no aumento da insegurança e violência em nossa sociedade, é dada toda legitmidade a não ter qualquer consideração por um sistema que os põe nas piores condições sobrevivência. Não é o meu caso e provavelmente não é o seu que está tendo acesso a esse texto. Dentro de um regime democrático a obrigação de respeito alheio cabe a nós. E se quisermos prolongar esse regime por algum tempo devemos não respeitar uns aos outros como ainda lutar para incluir aqueles que são uma ameaça legítima a nosso sistema. O que queremos para o futuro?


04/06/06 nilo santana 02:35












Eu não sou o Felipe Cain, eu sou uma ilusão dele que é louco e acha que eu sou seu jogador de RPG.

3 Comments:

Blogger milena said...

Eu não li o post. Desculpa. Mas é, de longe, o assunto que menos gosto. Fica pro próximo.
Quanto ao teu recado lá eu tb gosto muito disso, associar coisas, momentos à pessoas queridas. E vos digo com toda sinceridade, nunca achei que fosse possível esquecer de alguém sem ter de fato outro algué e eu consegui. Estou feliz por isso e queria te dizer tb, já que não nos cruzamos mais. Ah, eu realmente estou dormindo cedo e quando tu me ligas eu já estou ferrada de sono.
As novidades são muitas e eu poderia descrevê-las por aqui, mas seria um saco ¬¬
Bem, desejo-te a mesma felicidade que me desejastes e um brilho nos olhos ;)

Um xero, boa sorte, bons dias...
;************

E eu tb te gosto bastante ^^

6:13 AM  
Blogger Daniel said...

è muito longo
entao nao vou ler

mas a ciencia sagrada do sacerdocio do rei me tira a republica democratica de longe como uma soluçao a vejo como um paliativo e a monarquia o remedio

6:29 AM  
Blogger Priscila Letieres said...

manequeísmo me desgrada em qualquer âmbito.

se ele inexiste, na minha opnião.

4:04 PM  

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